A EPÍSTOLA DE FILEMON

Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.
E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta.
Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei, para te não dizer
que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves. Filemon 18-19


Certa vez, o reverendo Sir W. Robertson Nicoli, famoso editor e autoridade literária, escreveu:
"Se tivesse de cobiçar qualquer honraria como escritor de qualidade, bastaria que algumas de
minhas cartas, figurassem nas estantes dos meus amigos, logo que terminassem as lutas da
vida". Se Paulo almejou essa honra ou não, nunca saberemos. Mas o fato é que uma de suas cartas
íntimas foi preservada com carinho até os nossos dias.

De toda a correspondência íntima de Paulo, esta epístola é a única que o tempo preservou. É a
mais curta de suas epístolas, uma verdadeira jóia!!

Passamos a conhecer o caráter de um homem, seu verdadeiro caráter, mais pelo seu modo de proceder
intimamente do que pelo que ele é em público. Os homens costumam brilhar na sua vida pública;
na sua vida familiar e íntima eles se revalam em sua totalidade como são, como agem.

Pelo estudo desta epístola, tão curta, notamos a robustez do caráter de Paulo - ele é sempre o mesmo,
cortês (por isso, chamam a esta epístola da cortesia), amável, humilde, santo e homem desinteressado.

Filemon era aparentemente membro da igreja de Colossos, a qual parece que se reunia em sua casa (verso 7).

Paulo escreveu esta carta provavelmente na mesma época em que escreveu a carta aos Colossenses, entre os
anos de 59 e 61, período em que estava preso em Roma. Há uma conexão grande entre as cartas a Filemon e aos Colossenses. Além do estilo semelhante, as mesmas pessoas mencionadas em Filemon (como o próprio Onésimo, Arquipo e Lucas, por exemplo) aparecem também em Colossenses.

Onésimo era um escravo que havia fugido de Filemon. Teria possivelmente roubado ao seu amo e fugido
para Roma (verso 18), onde esteve sob a influência de Paulo e se converteu (verso 10). Anésimo chegou a
ser discípulo de Cristo (Colossenses 4:9). Paulo queria tê-lo em Roma como seu ajudante (verso 13), mas por
não ter o consentimento de Filemon (verso 14), sentiu-se no dever de enviar o escravo a seu amo.

Desta maneira, Paulo escreve esta bela carta de intercessão, pedindo a Filemon que perdoe a Onésimo e
lhe devolva a confiança.

Paulo tenta com esta epístola tocar o coração de seu amo, desejando ardentemente evitar a punição severa
e cruel que nesse caso ditava a lei romana (lembra-se dos dois ladrões crucificados ao lado de Cristo?).
O apóstolo tenta conciliar Onésimo com Filemon sem humilhá-lo, e recomenda o malfeitor sem lhe
negar a falta cometida.

Como conseguir isto? Este foi o problema que Paulo teve de enfrentar.

Paulo sente que Filemon não deve encontrar-se a sós com seu dono, injuriado; por isso providencia um
mediador, em Tíquico, que estava de partida para Colossos. A carta é pessoal a Filemon e o próprio
Onésimo é seu portador. E para tornar difícil a Filemon não perdoar e não restaurar o culpado, ele o
recomenda a igreja (Colossenses 4:9).

Paulo escreve uma obra-prima, um modelo de tática, graciosa e delicada solicitação.

Desejoso de tocar numa corda sensível do coração de Filemon, Paulo menciona, muitas vezes, que ele era um preso (verso 1, verso 9, etc).

Ele cita, cordialmente, as excelentes qualidades de Filemon; assim fazendo, torna-lhe difícil não exercer essas qualidades, em perdoar Onésimo (verso 4, verso 7).

De propósito, Paulo demora em citar o nome de Onésimo, a fim de preparar o espírito de Filemon.
Ele não quer ordenar, com a autoridade de um apóstolo, mas prefere rogar como um amigo
muito íntimo (verso 8, verso 9 e verso 20).

Com um ardente apelo, refere-se a Onésimo como "meu filho" (verso 10), na certeza de que Filemon faria
segundo o seu pedido (verso 21).

Paulo faz um reconhecimento franco do mal causado (verso 11), e prometendo restituir ou compensar o
prejuízo (verso 18 e 19), mas toca no assunto do fato de Onésimo ter se convertido a Cristo, como
também Filemon que provavelmente Paulo converteu e por
isso "para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves", Paulo lembra a Filemon deste
fato verso 19.

Pela cuidadosa escolha das palavras, Paulo diz: "se tenha separado de ti" (verso 15) e não "fugiu" ou
"escapou". Não usou nenhuma palavra que despertasse, no dono, o sentido de zanga, por isso escolheu
as palavras que descrevem o ato e não o gênero, apresentando somente o aspecto exterior do procedimento
do escravo; "por algum tempo" (verso 15). Em nenhum momento, Paulo menciona o fato de Onésimo ter
roubado qualquer coisa ao seu dono. Ele evita a palavra "ladrão" e a palavra "roubo".

A palavra-chave dessa epístola é "Receber". Note como paulo chega a ferir uma nota mais forte e uma
chave mais elevada, cada vez que a repete (verso 12, verso 15 e verso 17).

Esta epístola tem sido mencionada, pelos amigos e partidários da escravidão, com base e apologia
dessa infelicidade.

Mas poderia existir escravidão se os versos 16 e 17 fossem postos em prática? Aqui está uma ilustração
da influência reformadora do Evagelho,que procura atingir seus fins pela persuasão e não pela compulsão;
com gentileza e não com força.


Talvez Onésimo, que em grego significa útil, fosse realmente um cristão que merecesse nota. Paulo, o apóstolo,
o defende em uma carta pessoal. Quantas pessoas na sua igreja são dignas de nota de que seu pastor as
defenda publicamente?

Quantas pessoas em sua igreja são dignas de nota de que seu pastor as defenda diante de tratos pessoais
com a família? Ou em seu próprio trabalho?

Temos como advogado uma pessoa nos céus. Ela é Jesus Cristo. Ele advoga a nossa causa diante de Deus,
contra o Inimigo.

Quão digno de nota somos de merecer tal intercessão?

extraído dos textos contidos em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola_a_Filemon e
em http://www.bibliaonline.net/esboco/colecao.cgi?57


A paz de Cristo.